O artigo do Dr. Rogério Jesus sobre a oferta de tratamento especializado para dependência química e a escassez de profissionais especializados na Bahia foi publicado no Jornal A Tarde. 💬
A importância desse tema é evidente, e estamos comprometidos em promover o conhecimento e a capacitação profissional.
CONFIRA O ARTIGO:
É urgente ampliar oferta de tratamento especializado para dependência química
*Rogério Jesus
O Relatório Mundial sobre Drogas mais recente, lançado em junho de 2023, pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), aponta grande dificuldade de acesso ao tratamento para transtornos associados ao uso de drogas. Em 2021, apenas uma em cada cinco pessoas recebeu tratamento adequado para transtornos associados ao abuso de drogas.
No Brasil, o II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (II LENAD), realizado pelo Instituto Nacional para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (INPAD), estimou que existe na população cerca de 5.7% de brasileiros que são dependentes de álcool e/ou maconha e/ou cocaína, representando mais de 8 milhões de pessoas. Este levantamento também estimou que os domicílios no Brasil são compostos por uma média de 4 pessoas. Esses números apontam que pelo menos 28 milhões de pessoas vivem hoje no Brasil com um dependente químico.
Os problemas relacionados ao consumo abusivo de drogas e aos transtornos que essa prática causa cresceram ao longo das duas últimas décadas, isso acontece em todo o mundo, e não é diferente no Brasil ou na Bahia. A oferta de atendimento não é suficiente para atender a demanda, em especial no Brasil e na Bahia, onde a vulnerabilidade social afeta parcela significativa da população. O atendimento adequado hoje é restrito a uma pequena parcela da sociedade.
Por melhor que seja o psiquiatra e ou o profissional de psicologia, tratar de pacientes com abuso de drogas requer treinamento especial no entendimento das abordagens que precisam acontecer com o paciente e com a família, do ponto de vista da abordagem farmacológica, psicológica, psicossocial e psicoeducativa.
Segundo o relatório sobre a “Carga Global das Doenças” (Global Burden of Disease GBD) da Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso abusivo de álcool e drogas está entre os maiores responsáveis pela morte prematura e pela perda de vida saudável e produtiva nas Américas, causando um grande impacto social, econômico e de saúde pública dessas nações.
Esse cenário implica na necessidade de capacitação para oferecer atendimento especializado. Quando a pessoa com problemas drogas recebe o tratamento adequado, melhora o prognóstico, previne a instalação e ou o agravamento do transtorno relacionado ao uso de substância, que vai impactar diretamente no cenário de saúde pública.
Na Bahia há escassez de profissionais especializados para o tratamento de dependência química. O que inviabiliza muitas vezes a identificação precoce do uso abusivo de drogas. Treinar o olhar e manejo dos profissionais para esse problema pode reduzir os números alarmantes, ao melhorar a oferta de tratamento especializado.
*Psiquiatra, especialista em Dependência Química pela Unifesp, mestre pela UFBA, membro da Associação Brasileira de Estudo de Álcool e outras Drogas – ABEAD, presidente da Associação Psiquiátrica da Bahia.
