Recentemente, o Grupo de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde a define como: a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e do sistema de valores nos quais vive e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.
Já outros consideram ainda que, em tempos mais recentes, foi o presidente norte-americano Lyndon Johnson quem, em seu discurso de posse, empregou pela primeira vez a expressão “qualidade de vida”, ao declarar que: “Os objetivos não podem ser medidos pelo balanço dos bancos. Eles só podem ser medidos pela qualidade de vida que proporcionam às pessoas”.
Diante disso, resta saber, entretanto, se a sociedade não deixou de considerar o balanço dos bancos (e a história recente mostra que a sociedade não deixou de considerá-lo) para passar a considerar o balanço dos gastos governamentais com saúde mais do que o próprio bem-estar das pessoas.
Durante a década de 1940, as indústrias de produtos manufaturados desenvolveram os conceitos de produtos com qualidade e de controle de qualidade. Após 1945, o conceito de qualidade de vida foi associado à aquisição desses bens, passando-se a buscar índices para sua mensuração.
Esses índices, primeiramente, eram genéricos e se referiam a expectativa de vida e mortalidade infantil, entre outros aspectos, passando, desde 1960, a surgir indicadores subjetivos focados na satisfação, no bem-estar e na felicidade das pessoas, avaliados por suas experiências de vida.
Porém, quando se verifica os atuais conceitos de qualidade de vida, observa-se diversos enfoques e visões, vários deles merecendo reflexão e análise.
Alguns consideram que qualidade de vida boa ou excelente corresponde à possibilidade de alguém ter condições mínimas para obter o máximo de seu potencial para viver, amar, trabalhar, produzindo bens e serviços, fazendo ciência ou arte.
Na mesma linha de pensamento, existe o conceito de que a qualidade de vida é atingida a partir da subjetividade e abarca todos os elementos essenciais da condição humana, embora isso seja bastante difícil de ser definido.
Dessa maneira, qualidade de vida pode ser definida como necessidade e desejo próprios do ser humano, sendo parte integrante das buscas nas relações familiares, amorosas, sociais e ambientais.
Entretanto, tem-se de considerar que o cotidiano é determinante para a satisfação e a insatisfação das pessoas, estando relacionado com a sensação de bem-estar em consequência, à qualidade de vida deve incorporar o bem-estar no âmbito social, na saúde, na medicina e na satisfação psicológica.
Em termos gerais, fala-se, então, da forma como o indivíduo interage (considerando-se seu equipamento genético-constitucional e seu investimento sociocultural com o mundo externo.
Portanto, tal forma está ligada às características da experiência humana e relacionada de maneira direta às percepções do bem-estar, sendo importante estabelecer parâmetros sensíveis para detecção e qualificação do impacto psicossocial.
Assim, quando citado de maneira isolada, o termo qualidade de vida costuma ser compreendido como as condições em que um indivíduo, um país ou uma região está vivendo, misturando-se conceitos sociológicos, econômicos, sanitários, educacionais e outros, à procura de indicadores que espelhem um (teórico) bem-estar social.
Em um panorama atual, os últimos tempos foram pródigos nos modelos de classificação e diagnóstico de qualidade de vida. Permitindo simplificações, distorções e conceitos parciais e de caráter puramente funcionalista (que se enquadram muito bem em uma sociedade globalizada e com um objetivo centrado na produção e no consumo).
Já no âmbito de um modelo social estressante, imposto ao indivíduo por uma sociedade capitalista e de consumo (na qual cada um vale pelo que tem e produz), pode-se observar um desgaste tão intenso que justifica a procura de alternativas compensadoras, na maior parte das vezes também ligadas aos mesmos mecanismos de consumo.
Desse modo, buscam-se variadas formas para atenuar o desgaste cotidiano sem que o indivíduo seja questionado e o seu meio mais próximo, assim como os sistemas sociais pelos quais circula sejam investigados.
Assim, as oportunidades de se vir a ter uma boa qualidade de vida e a relação entre o individual e o coletivo, tendo-se até a pretensão de tentar dar ao indivíduo isolado a condição e o poder de fazer desaparecer os fatores que o induzem ao estresse e a uma vida infeliz.
A partir destes princípios, os criadores de produtos e os especialistas em marketing, passam a apresentar “receitas” que propõem a atenuação do cansaço físico ou mental com fórmulas corretas, que variam da compra de um determinado produto à mudança de hábitos e condutas sociais.
Portanto, o despotismo atual do dinheiro, com o subsistema financeiro se apresentando como se fosse o próprio sistema econômico e social, provoca diferentes rupturas no tecido social de uma maneira grave.
Entretanto, somente subvertendo essa visão e privilegiando a existência real das pessoas como individualidades é que se pode começar a pensar sobre a noção de qualidade de vida. Caso contrário, permanece-se atrelados aos conceitos midiáticos ligados a concepções estritamente econômicas.
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